Kengo Kuma e Portugal: aliar tradição e sustentabilidade na arquitetura contemporânea
Data de publicação: 08.07.2025
Rafael Vieira

Remodelação do edifício do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
Kengo Kuma é um dos nomes incontornáveis da arquitetura contemporânea. Tem uma obra reconhecida pela sensibilidade ao lugar, pela integração harmoniosa entre arquitetura e natureza, e por uma abordagem inovadora e enraizada nos valores da sustentabilidade. Ao longo destas últimas décadas, o arquiteto japonês desenvolveu uma linguagem assente na leveza, na simplicidade e no uso de materiais locais e naturais. Com Portugal, esta abordagem encontrou ecos férteis em vários projetos, integrando sensibilidade ambiental e cultural.

Redesenho do edifício do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
Sustentabilidade como conceito operativo
Entre os seus projetos de maior destaque em Portugal, está o redesenho do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, numa colaboração com o arquiteto paisagista Vladimir Djurovic. É aqui reinterpretado o conceito japonês de engawa, espaço de transição entre o exterior e o interior, para criar uma ligação fluida entre o edifício, os jardins e a cidade. A nova entrada do espaço é marcada por uma cobertura ondulada revestida de ripas de madeira portuguesa e telhas cerâmicas fabricadas localmente, contribuindo para mitigar o aquecimento do edifício, ao reduzir a necessidade de climatização. A cerâmica estabelece o vínculo material e simbólico com a tradição portuguesa e associa-se a meios de fabrico mais sustentáveis. A escolha dos materiais, o desenho da cobertura em pérgula e o redesenho dos acessos paisagísticos demonstram uma abordagem integrada.

Vista interna do novo Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
Outro projeto de particular relevo de Kengo Kuma & Associates (KKAA ) é o Pavilhão de Portugal na Expo Osaka Kansai 2025. Esta obra celebra não apenas o encontro entre culturas, como apresenta uma construção leve e modular, concebida com foco na sustentabilidade.

Vista geral do Pavilhão de Portugal na Expo Osaka Kansai 2025
O pavilhão é constituído por 9 972 cordas suspensas, com o peso total aproximado de 60 toneladas, e por redes recicladas, que dialogam com o vento e a luz. Estes materiais proporcionam um ambiente em constante transformação, que evoca o movimento oceânico e, desta forma, a presença do mar na portugalidade. Esta abordagem, assente em elementos naturais e reutilizáveis, permite a desmontagem eficiente e a redução significativa da pegada de carbono, refletindo uma visão coerente com os princípios da economia circular.

Detalhe interno do Pavilhão de Portugal da Expo 2025
Para além destes dois projetos emblemáticos, há outros projetos de realce na relação de Kengo Kuma com Portugal. O Matadouro Industrial do Porto é um projeto de reconversão do antigo matadouro num polo cultural e social, designado M-ODU. Foi desenvolvido em parceria com o atelier português OODA e destaca-se pela reutilização de materiais originais do edifício pré-existente, valorizando o património e reduzindo o impacto ambiental. Entre os projetos em fase de estudo e desenvolvimento, sobressaem os complexos turísticos e residenciais em Vilamoura e na Serra da Lousã, com uma intervenção na aldeia de Silveira. Aqui, será privilegiado o uso de materiais locais como o xisto e a madeira, integrando as construções de forma harmoniosa na paisagem envolvente. Outro projeto inovador é a colaboração com a startup portuguesa Havelar numa iniciativa experimental de construção com tecnologia de impressão 3D. Kengo Kuma reimagina os edifícios como uma parte viva de um ecossistema, inseridos numa teia complexa de relações ambientais, sociais e culturais. A sua arquitetura assinala um gesto consciente de ligação ao lugar, onde a sustentabilidade é intrínseca à identidade do projeto.

Projecto da aldeia da Silveira, Serra da Lousã, cortesia Silveira Tech