Primeiras obras: O Caso do Edifício General Silveira
Data de publicação: 09.05.2024
por Luis Filipe Andrade Fernandes
Este é também o caso do extinto cubículo, formado em 2016, hoje dividido em ATA, Atelier Tiago Antero, e Entretempos, de Vítor Preto Fernandes, e cujo primeiro projecto Edifício General Silveira, actualmente já construído, foi selecionado na presente edição dos Prémios Europeus Mies van der Rohe.
É curiosa esta descomplexificação nas nomeações de jovens no que a grandes prémios diz respeito. Revela uma mudança na reverência dada a grandes carreiras, permitindo uma atenção ampliada a vários faixas etárias, sem os pudores de uma lista de obras construídas consolidada.
O projeto para a General Silveira, contudo, parte de um pressuposto maduro, nomeadamente no que diz respeito a construir no coração do centro histórico da cidade do Porto, o que faz com que os argumentos acima quase caiam por terra.

A atenção ao lugar, a partir da sensibilidade e respeito pela identidade do lugar, bem como a consolidação de um quarteirão qualificado ao coser o programa solicitado – habitação – com a necessidade de colmatar a ruptura de escala do vazio urbano a intervir, foram os grandes fios condutores deste projeto.
Vítor Preto Fernandes, descreve assim essa preocupação: "Construir no centro histórico de qualquer cidade é sempre um processo de grande sensibilidade, entre as características do lugar existente e a nova transformação que se lhe impõe”.
Composto por dois volumes para cada uma das ruas circundantes, com um pátio recortado no interior do quarteirão, uma caixa de escadas central assume-se como peça central do projeto, não só pelo seu impacto na perceção do espaço, mas também por definir as cotas do edifício e todas as relações altimétricas com a envolvente. A métrica dos alçados, a escolha do padrão e cor de azulejo, a distância entre vãos e o desenho e composição do elemento remetem para a dinâmica e tectónica dos edifícios contíguos, respeitando a essência do lugar.

Distribuindo-se 4 apartamentos por piso, o edifício culmina em 4 coberturas de 4 águas, numa escala que evoca os lotes originais. O piso térreo atua como espaço mediador entre o público e o privado, onde comércio e habitação se entrelaçam, e as habitações abrem-se para as frentes de rua, enquanto as áreas mais privadas desfrutam do caráter intimista do pátio central.

No entanto, a execução deste projeto não esteve isenta de desafios. Desde a fase inicial da escavação, a presença de um maciço rochoso e fundações vizinhas exigiu adaptações significativas, resultando na perda de área e lugares de estacionamento, além de uma revisão completa do projeto de Estabilidade. Ao longo de 2 anos e meio de obra, várias situações emergiram, algumas com impacto substancial. Destaca-se a necessidade de integrar armários técnicos nas fachadas e a execução dos degraus da escada central, ambas exigindo soluções criativas e técnicas.
Os arquitectos remetem ainda assim o sucesso deste empreendimento à capacidade de resposta aos desafios encontrados durante a construção, resultando a obra numa síntese das intenções do projeto e das exigências impostas pelo contexto urbano.
