FACING THE FUTURE OF FACADES: Fachadas ao vento
Data de publicação: 12.12.2024
Luís Filipe Fernandes
Em 2014, Rem Koolhaas, enquanto curador da 14ª Bienal de Veneza, apresentou no Pavilhão Central dos Giardini a exposição Elements. Como uma decomposição da arquitetura, a exposição se apresentava como um vastíssimo catálogo dos elementos que a constituem. Parede, chão, teto, chaminé, janela e até escadas rolantes e elevadores eram enunciados, acompanhando sua evolução tanto de forma cronológica quanto temática.
Propositadamente omissa na lista acima, a fachada também foi explorada, no âmbito desta exposição, como um elemento fundamental. Considerada o primeiro plano da construção e, muitas vezes, o único acessível ao transeunte, a fachada dos edifícios tem sido tratada na arquitetura não apenas como plano de expressão artístico-arquitetônica, mas também como lugar de fronteira entre o interior e o exterior, revelando, em seu tratamento, a necessidade de uma resposta ao conforto e à estrutura.
Nesse lugar de limite, muitas têm sido as investigações realizadas em torno da fachada, nomeadamente em termos de materiais e de sua leitura enquanto plano. Se avançamos das fachadas maciças e telúricas até à fachada que 'desaparece' – um longo pano de envidraçado –, há também espaço para a fachada que esvoaça.

Desenho de 1916 de Aranha-Céus Zoning Law, em Nova Iorque, de Hugh Ferriss. Desenho do livro-manifesto “Metropolis of Tomorrow”, onde Ferriss revela a sua visão para uma nova imagem para a grande metrópole da maçã.
Nos desenhos do início do século XX, em que Hugh Ferriss imaginava uma cidade exponencialmente crescente na vertical, já se vislumbravam fachadas espectrais que pareciam mover-se. Essa fantasmagoria, presente em muitos desenhos de expressão modernista, como a colagem amplamente disseminada da grande torre na Friedrichstrasse, em Berlim, de Mies van der Rohe, materializou-se com grande expressão nos projetos artísticos de Christo & Jeanne-Claude, que, a partir dos anos 70, envolveram em grandes tecidos edifícios e monumentos inteiros, como o Arco do Triunfo, em Paris, ou o Reichstag, em Berlim.

Não sendo necessariamente esse o ponto de partida para uma utilização mais concreta na arquitetura, as experiências de Christo & Jeanne-Claude contribuíram, ainda assim, para um imaginário de possibilidades no que diz respeito à aplicação de tecidos em fachadas.
A esse fator juntou-se também a exploração do tecido enquanto potencial tecnológico, seja enquanto parte de sistemas operacionais mais complexos seja enquanto elemento isolado. Servindo-se os arquitetos do uso de tecido enquanto material com capacidade para controlar opacidade e níveis de absorção de luz ou contribuir para o isolamento térmico e acústico.


A Curtain Wall House do arquiteto Japonês Shigeru Ban, é simbólica no uso de tecidos em fachadas enquanto potencial técnico e de design. Seguiram-lhe inúmeras experiências de arquitetos como Lacaton e Vassal, Arno Brandlhuber ou Office.
Um dos exemplos mais emblemáticos da aplicação de tecidos em fachadas é a Curtain Wall House, de Shigeru Ban, em Tóquio, de 1995. Inspirada nos elementos filtrantes da arquitetura tradicional japonesa, a cortina que cobre toda a fachada desta habitação urbana é uma resposta aos desejos de um cliente habituado à vivência no tecido urbano do centro histórico da cidade. A cortina, feita de um material similar ao utilizado em tendas, serve para controlar as vistas e garantir privacidade, mantendo, conforme sua posição, um sentido de permeabilidade visual. Além disso, atua como um sistema de controle de luz e isolamento, permitindo maior retenção de calor nos meses frios.
Mais recentemente, a proposta para uma unidade habitacional promovida pelo município de Barcelona, para o bairro de Sant Feliu de Llobregat, do atelier MAIO, recupera tanto os princípios imagéticos das obras de Christo & Jeanne-Claude quanto as questões de conforto da Curtain Wall House.

Nomeado ao Prémio Mies van der Rohe em 2024, o projeto Habitacional em Sant Feliu de Llobregat, em Barcelona, do atelier MAIO, procura, através de soluções económicas, responder às políticas de habitação promovidas pela cidade para combater a escassez habitacional. Envoltas em cortinas exteriores, as fachadas ganham uma expressão de movimento, contribuindo simultaneamente para o conforto térmico das habitações.
A aplicação de cortinas ao longo de toda a fachada exterior da unidade habitacional é uma resposta direta à condição de construção a custos controlados, como é habitual em projetos deste tipo. Com baixa manutenção e longa vida útil, as cortinas permitem, de forma económica, tornar o edifício mais eficiente do ponto de vista térmico.
Aliadas à fachada em tijolo de terracota e a outras soluções passivas, como a existência de um pátio interior que arrefece o conjunto durante os meses de maior calor, as cortinas permitiram que os custos de construção e a manutenção associada à sua eficiência energética ficassem abaixo do custo médio nacional.
A aplicação das cortinas na fachada permitiu ainda que as varandas fossem integradas como parte de cada habitação, apresentando-se como espaços ambíguos entre o interior e o exterior, premissa que também é aplicada no percurso semi-público do piso térreo, de planta serpenteante.

A permeabilidade, eloquente na solução das fachadas em cortina, guia as múltiplas dimensões do conjunto, em particular as de cariz mais público. O piso térreo segue a forma e a linguagem do espaço urbano para maior integração entre os dois, mantendo-se um percurso, ondulante, em calçada dura para facilitar a acessibilidade e manutenção do espaço urbano. O piso do telhado é transitável para uso comunitário.
Com cinco pisos e 40 unidades habitacionais, o projeto prioriza a conectividade urbana, a equidade social e a sustentabilidade, ao mesmo tempo que mantém uma identidade visual distintiva, nomeadamente através das cortinas que lhe conferem, em certos momentos, uma sensação de edifício veleiro, com os tecidos brancos içados ao vento.