Cradle to Cradle
Data de publicação: 13.05.2025
Rafael Vieira

Renovação de edifícios com materiais reutilizados e reciclados: futuro sustentável da construção
O conceito Cradle to Cradle (C2C), desenvolvido por William McDonough e Michael Braungart, propõe um sistema circular na construção, onde todos os materiais podem ser reutilizados ou regenerados indefinidamente, sem gerar resíduos e desperdícios. Em contraste com o modelo linear no ciclo de vida do material, da extração ao descarte, o Cradle to Grave, esta abordagem reduz o impacto negativo da construção e visa um efeito regenerativo, essencial num contexto de crise ambiental cada vez mais evidente.

A renovação de edifícios pelos princípios Cradle to Cradle apresenta-se como uma resposta concreta a estas questões, sustentada em princípios de sustentabilidade, circularidade e respeito pelo ambiente. Cada edifício torna-se um agente de regeneração ambiental, social e económica, funcionando como um banco de materiais, recuperáveis e reutilizáveis no fim do seu ciclo de vida. A grande diferença para uma renovação ou reabilitação regular implica na seleção criteriosa, tanto no nível construtivo quanto disciplinar, de recursos provenientes de demolições, excedentes industriais ou resíduos a valorizar e a forma como integrá-los de forma eficaz no processo projetual. Cada componente foi concebido para regressar ao ciclo produtivo após o uso, sem perda de qualidade ou funcionalidade. Esta abordagem exige também uma mudança paradigmática na arquitetura: construir com consciência do ciclo de vida dos elementos construtivos. O papel dos técnicos é mediar entre os recursos existentes e novas formas de habitar, com responsabilidade e criatividade.

Cradle to Cradle procura a sustentabilidade e a circularidade em produtos e processos, incentivando a criação de produtos que possam ser usados e reutilizados de forma segura, sem gerar resíduos nocivos para o meio ambiente ou para a saúde humana. Madeira reaproveitada, pavimentos reciclados, aço recondicionado, tijolos antigos ou isolamento feito a partir de fibras têxteis reutilizadas são algumas das possibilidades de materiais utilizados. A sustentabilidade atravessa, assim, todas as fases do projeto, do planeamento ao fim de vida dos materiais. As soluções devem favorecer sistemas de montagem reversíveis, evitar compósitos de difícil reciclagem e adotar estratégias passivas de climatização. A eficiência energética pode ser reforçada com painéis solares, ventilação natural, isolamento eficaz e vegetação que contribua para o sombreamento.

Os edifícios Cradle to Cradle são desenhados para eliminar o desperdício e a poluição, assegurando que todos os materiais possam ser reciclados ou reutilizados no final do seu ciclo, imitando os processos naturais. Esta metodologia pretende fomentar uma economia circular no ambiente construído e uma gestão eficiente dos recursos. Entre as práticas concretas destacam-se o uso de materiais reciclados e recicláveis, a implementação de sistemas de eficiência energética, recolha e tratamento de águas pluviais, criação de passaportes de materiais para a sua rastreabilidade e reutilização, incorporação de elementos verdes e dar prioridade à saúde dos materiais e à equidade social. Pretende-se, por fim, que os edifícios sejam desmontáveis, recicláveis, energeticamente positivos, saudáveis e economicamente viáveis.

Para encontrar produtos C2C, recomenda-se o diretório do Instituto C2C de Inovação de Produtos, e plataformas como Upcyclea, Circularity Passport e Madaster, que elencam materiais e planeiam a sua circularidade. Existem, no entanto, outras possibilidades de reutilização de materiais no processo construtivo como a associação Nada Novo, assim como o importante papel ambiental e social da circularidade. Torna-se fundamental reconhecer que a implementação destes princípios de reutilização, ainda que de forma gradual ou parcial, não é apenas de interesse técnico ou estético, surge também como apelo ético e necessário.